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Vahid Afkari. Iraniano detido há mil dias em solitária

Vahid Afkari. Iraniano detido há mil dias em solitária

A Amnistia Internacional apelou à libertação de um homem iraniano que está a passar o milésimo dia na solitária. Vahid Afkari, de 37 anos, foi condenado, juntamente com dois irmãos, pelo assassínio de um agente de segurança durante os protestos contra o custo de vida, há cinco anos.
Vahid “Vahid Afkari nunca deveria ter passado um único dia na prisão, quanto mais anos de prisão injusta e mil dias na solitária. Deve ser libertado imediatamente”, defendeu a Amnistia Internacional em comunicado.

Um dos irmãos, o campeão de luta livre Navid, foi executado. O outro irmão, Habib, foi libertado em 2022, devido à pressão internacional. Apesar da dura repressão exercida contra manifestantes antigovernamentais ao longo dos anos no Irão, é raro as autoridades manterem alguém numa cela durante tanto tempo.

“Sempre que a família visita Vahid Afkari na prisão, tenta apoiá-lo, mas é ele que lhes levanta o moral”, afirmou à BBC uma fonte próxima da família.

Os problemas da família Afkari começaram há alguns anos na sua cidade natal, Shiraz, na província meridional de Fars.

Várias pessoas estavam a protestar contra o aumento dos preços e a redução de salários. Os três irmãos estavam entre os manifestantes.

Vahid e Navid foram detidos em setembro de 2018, e Habib três dias depois.
Navid, o mais novo era conhecido por praticar luta livre. E foi condenado à pena mais severa por parte das autoridades, a pena de morte. Vahid e Habib foram condenados a 54 e 25 anos de prisão, respetivamente.

A BBC verificou dezenas de documentos que mostram os três irmãos Afkari a queixarem-se às autoridades judiciais de terem sido torturados para confessar os crimes enquanto estavam sob custódia policial.

Em agosto de 2020, uma mensagem de áudio de Navid foi partilhada nas redes sociais. “Não há uma única prova neste maldito caso que prove que sou culpado. Percebo que estão a tentar arranjar um pescoço para colocar a corda”, uma frase que rapidamente se tornou viral.

No mesmo mês, uma mensagem de voz de Vahid conseguiu passar os muros da prisão de Adel Adad, em Shiraz, onde os três irmãos estavam detidos. “Fiz duas greves de fome com a duração de 20 dias, na esperança de que a minha voz fosse ouvida, mas isso não aconteceu. Acabei por tentar suicidar-me devido à tortura mental e psicológica que sofri”.

Segundo fonte da BBC, os três irmãos – de uma família de cinco rapazes e uma rapariga – foram criados num ambiente de amor, apesar das dificuldades financeiras.

Vahid e Habib eram excelentes alunos e frequentavam a universidade. Já Navid, que depois de terminar a faculdade se tornou estucador, estava sempre preocupado com a mãe e com a alimentação da família.

Em setembro de 2020, os três irmãos foram violentamente agredidos na prisão e colocados em celas subterrâneas, ao lado da sala de execuções. As celas não eram iluminadas, não tinham janelas, camas ou cobertores – apenas uma sanita e um lavatório no canto.

Os prisioneiros entram nas celas e recebem um uniforme previamente usado, muitas vezes coberto de sangue devido a espancamentos ou ferimentos pessoais.
Um antigo prisioneiro afirmou à BBC que os detidos “são algemados. Devido ao frio, as algemas de metal ficam afiadas como navalhas. A dor é tão forte que somos obrigados a deitar-nos sobre o peito”.

Ao início do dia 22 de setembro de 2020, Vahid e Habib ouviram o mecanismo de enforcamento a ser acionado.

Poucos minutos depois, um guarda prisional entrou nas celas onde estavam e afirmou: “Condolências. O seu irmão mais novo, Navid, foi enforcado aos 27 anos. A campanha dentro e fora do Irão para impedir a sua execução falhou”. A campa de Navid ainda não tem uma lápide adequada. Sempre que a família tentou erigir uma, esta foi demolida pelas autoridades.

Após a execução de Navid, as autoridades continuaram a exercer pressão sobre os outros dois irmãos. Durante semanas, não foram autorizados a receber visitas ou a contactarem a família.

Quando a família Afkari foi finalmente autorizada a visitá-los apercebeu-se de que Vahid estava a ser pressionado para se incriminar e a Habib.

Segundo a BBC, foi dito a Vahid que seria libertado se confessasse o assassínio. Caso não o fizesse, o irmão seria executado à sua frente. Vahid insistiu na inocência dos dois. Quando questionado se tinha medo de morrer, Vahid respondeu: “Tenho medo, mas não sou culpado”.
Após pressão internacional, Habib foi libertado em março de 2022.
Vahid continua detido em solitária. Segundo consta, está bem disposto e faz exercício todos os dias na cela. Foi mobilizada uma campanha internacional para que seja libertado. pub
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