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Análise ao sangue para detectar mais de 50 tipos de cancro poderá acelerar diagnóstico

Análise ao sangue para detectar mais de 50 tipos de cancro poderá acelerar diagnóstico

O teste detectou dois em cada três cancros entre os participantes em estudo britânico. Em 85% dos casos positivos, a análise também foi capaz de identificar a origem do cancro.

Uma análise ao sangue para detectar mais de 50 tipos de cancro mostrou-se promissora num grande estudo realizado pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), podendo vir a acelerar o diagnóstico.

Segundo o diário britânico The Guardian, o estudo envolveu 5461 pessoas com sintomas em Inglaterra e no País de Gales que foram encaminhadas para o hospital pelo seu médico de família por suspeita de cancro. A análise detectou correctamente dois em cada três cancros entre os participantes no estudo que de facto tinham a doença.

Segundo explica em comunicado a empresa californiana Grail (que desenvolveu o teste), 368 (6,7%) dos 5461 doentes avaliados neste estudo foram diagnosticados com cancro através de métodos tradicionais, como exames e biópsias. A análise ao sangue identificou, por sua vez, um sinal de cancro em 323 pessoas, 244 das quais foram efectivamente diagnosticadas com cancro posteriormente.

A sensibilidade global do teste foi então de 66,3% — o que significa que em 100 pessoas que se sabe terem cancro o resultado do teste dará falsos negativos em cerca de 34. Esta percentagem varia conforme a idade do paciente e o estádio do cancro. A idade média dos doentes foi de 62,1 anos.

The first step in testing a new way to identify cancer as quickly as possible, being pioneered by the NHS - earlier detection of cancer is vital and this test could help us to catch more cancers at an earlier stage and help save thousands of lives. https://t.co/xkFYHMkylP

— Peter Johnson ?? (@PWMJohnson) June 2, 2023

Além disso, em 85% dos casos positivos, a análise também foi capaz de identificar a origem do cancro, ou seja, qual é o órgão afectado, de acordo com os resultados do estudo citados pelo The Guardian.

O teste, denominado Galleri, detecta pequenos fragmentos de ADN tumoral (libertado pelas células tumorais) na corrente sanguínea.

Segundo os investigadores da Universidade de Oxford, citados pela BBC, este continua a ser um "trabalho em curso", mas poderá aumentar o número de cancros identificados precocemente.

Teste pode vir a ser aplicado a um milhão de pessoas

Apesar de não ser suficientemente rigoroso para “excluir ou não o cancro”, o teste revelou-se bastante útil no diagnóstico, explicou, em declarações à BBC, Mark Middleton, investigador principal da Universidade de Oxford.

“O teste teve uma precisão de 85% na detecção da origem do cancro — o que pode ser muito útil porque, muitas vezes, não é imediatamente óbvio, quando temos o doente à nossa frente, qual o teste necessário para verificar se os seus sintomas estão relacionados com o cancro”, afirmou Mark Middleton. Com teste, podemos decidir se pedimos um exame ou uma ecografia e garantir que estamos a fazer o teste certo à primeira”, acrescentou.

Os resultados são apresentados na conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (em Chicago), que decorre entre 2 e 6 de Junho, e serão publicados na revista científica The Lancet Oncology.

O NHS também tem utilizado este teste em milhares de pessoas sem sintomas para perceber se a análise é capaz de detectar cancros ocultos. Espera-se que os resultados preliminares sejam divulgados ainda este ano e, caso sejam satisfatórios, o NHS planeia alargar o teste a cerca de um milhão de pessoas em 2024 e 2025 em Inglaterra.

A BBC sublinha ainda que o teste é particularmente eficaz na detecção de cancros difíceis de identificar — como os cancros da cabeça e do pescoço, do intestino, dos pulmões, do pâncreas e da garganta.

“Este estudo é o primeiro passo para testar uma nova forma de identificar o cancro o mais rapidamente possível, sendo pioneiro no NHS. A detecção precoce do cancro é vital e este teste pode ajudar-nos a detectar mais cancros numa fase inicial e ajudar a salvar milhares de vidas”, destacou Peter Johnson, médico oncologista e director clínico do NHS.

Por sua vez, David Crosby, investigador da associação de solidariedade Cancer Research UK, no Reino Unido, alerta que “é necessário muito mais investigação num ensaio de maior dimensão” para averiguar se este teste “pode melhorar a avaliação dos médicos de clínica geral e, em última análise, os resultados dos doentes”.

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