expresso.ptexpresso.pt - 2 jun. 19:14

"Penso que os reguladores e os bancos estão a fazer um trabalho muito bom ao tentar continuar a trazer inovação para o mercado"

"Penso que os reguladores e os bancos estão a fazer um trabalho muito bom ao tentar continuar a trazer inovação para o mercado"

O Expresso falou com Peter Sidebottom, Global Financial Services Strategy Lead, no CEO Banking Forum. Assista ao vídeo e, abaixo, à respetiva tradução da entrevista

Acha que estamos perante uma crise bancária iminente ou a Europa está a afastar-se dos EUA?


Essa é uma ótima pergunta: o que está a acontecer nos Estados Unidos versus Europa em termos de ambiente bancário. Penso que ambos enfrentam condições macro muito semelhantes, que é um ambiente de inflação elevado. Durante muito tempo tivemos muita liquidez no sistema bancário e, consequentemente, taxas de juro baixas. E na Accenture vemos agora as taxas de juro subir à medida que tentamos parar a inflação e estabelecer um novo caminho económico para o futuro. Penso que o BCE tem sido mais rígido e mais diligente em alguns dos seus regulamentos bancários o que faz com que, por exemplo, a Europa tenha conseguido evitar algumas crises bancárias recentes nos Estados Unidos por causa de algumas das suas regulamentações. Mas acho que o ambiente no geral é muito estável, penso que os reguladores e os bancos estão a fazer um trabalho muito bom ao tentar continuar a trazer inovação para o mercado e a servir os consumidores e a indústria. E estão a fazê-lo num ambiente que provavelmente será
mais volátil no futuro.

O BCE celebra hoje o seu 25º aniversário. Acha que ainda está em sintonia com as necessidades económicas atuais para os países, empresas e consumidores, ou voltou a concentrar-se em medidas para combater a inflação?


Bem, penso que, ao entrarmos no 25º ano do BCE, este tem sido uma grande força para o bem e para a reforma económica. Penso que a coisa difícil para os reguladores e banqueiros neste ambiente atual é equilibrar as necessidades da economia global e voltar a controlar a inflação com as necessidades dos consumidores e das economias individuais num conjunto muito diversificado de países. Uma das coisas que em que estamos a trabalhar com muitos bancos é que antevemos que haja mais volatilidade, taxas de juros mais altas, taxas de juros mais baixas e coisas que não conseguimos prever, como guerras na Europa de Leste, crises bancárias nos Estados Unidos, que exigem que tanto os banqueiros como os reguladores sejam mais ágeis nas suas abordagens e sejam capazes de se adaptar mais rapidamente ao ambiente dentro dos seus próprios mercados.

Ao longo dos últimos dez anos, a ameaça dos neobancos aumentou sobre os bancos tradicionais. Trata-se só de inteligência artificial ou é uma ameaça que está para ficar?


É muito interessante que fale sobre ameaças ao sistema bancário. Quando olho para trás, vejo que o sistema bancário existe há centenas, se não milhares de anos, e ao longo de todo este tempo tem sempre havido inovação. Acho que os neobancos têm sido ótimos para os bancos, pois fazem com que estes inovem. Isso leva-nos a estarmos mais focados nos consumidores, a trazer mais experiências para os utilizadores através de recursos móveis e outros. Acho que a IA e o Chat farão a mesma coisa. A frente de inovação para os bancos é um lugar fabuloso para que possam continuar a trazer coisas novas, novos produtos e novas formas de prestação de serviços que agregam grande valor para o consumidor. Assim, acho piada quando as pessoas dizem que essas coisas são ameaças. Vejo-as como oportunidades e penso que os bancos têm sido excelentes, ao longo dos anos, a aproveitar essas oportunidades e poder trabalhar nelas e trazer ótimas coisas aos consumidores e às empresas que servem.

Como vai a IA mudar o sistema bancário?


Penso que a IA vai ser outra grande inovação para impulsionar o
setor bancário. E acho que o primeiro lugar onde podemos ver a aplicação da IA é em modelos de risco e na comunicação com clientes onde é capaz de fazer as coisas muito mais rapidamente, encontrar grandes massas de informação e dá-las muito rapidamente aos clientes. Mas ainda precisa de um ser humano. Por isso, na Accenture, falamos sempre sobre o engenho humano combinado com a inovação tecnológica, porque há muitas coisas que a IA não faz bem. E quando isso acontece, tem de ser supervisionada e tem de se garantir que funciona bem para fornecer as coisas certas. Também irá começar a ser aplicada às áreas de operações e tecnologia. Por exemplo, a sua capacidade de avançar a codificação na forma como as pessoas podem trazer produtos para o mercado. Acelerar tudo isso será tremendo e de enorme valor tanto para as empresas quanto para os clientes que estas servem.

E como pode a banca levar as pessoas e as empresas em direção a novos modelos de sustentabilidade?


Os novos modelos de sustentabilidade serão fantásticos. Os bancos sempre foram uma força para a mudança na economia, seja investindo em novas áreas no imobiliário ou em novas indústrias. Penso que a sustentabilidade é uma fronteira totalmente nova para os bancos fazerem inovação. Assim, acho que vamos ver novos produtos onde as pessoas vão querer investir. Vemos em todos os mercados que as empresas de investimento percebem que as pessoas querem moldar os seus portefolios. Penso que iremos ver isso mesmo refletido, até nos cartões de crédito e naquele tipo de coisas onde as pessoas que fazem escolhas de sustentabilidade vão começar a obter pontos de fidelidade e esse tipo de coisas. Acho que é uma frente totalmente nova para a inovação e acho que é uma daquelas coisas que os bancos fazem bem. Quando se concentram numa questão social e pensam em como podem trazer a inovação para a resolução de problemas, podemos sempre ver grandes inovações e grandes avanços.

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