expresso.ptexpresso.pt - 2 jun. 18:33

“A floresta precisa de inovação e tecnologia: rePLANT já registou patentes em cinco países”

“A floresta precisa de inovação e tecnologia: rePLANT já registou patentes em cinco países”

O rePLANT é um projeto liderado pela empresa de papel The Navigator Company e pela associação ForestWISE que se dedica a investigar e a desenvolver tecnologias para a gestão da floresta e prevenção dos incêndios. Carlos Fonseca, Chief Technology Officer do ForestWISE, revelou ao Expresso SER as principais inovações deste laboratório que já vai no terceiro ano de vida

Os números do Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas mostram que 36% do território português é ocupado por floresta, sendo o eucalipto (26%), o pinheiro-bravo (22%) e o sobreiro (22%) as espécies que ocupam a maior mancha florestal. No seu conjunto, os espaços silvestres (que incluem floresta, matos, terrenos improdutivos e zonas de águas interiores) abrangem cerca de 70% do país e a gestão de todo este território levanta grandes desafios a nível da prevenção e combate de incêndios, dos riscos de pragas e espécies invasoras, bem como da necessidade de rentabilização do solo.

É para tentar colocar a tecnologia ao serviço da resolução destes e de outros problemas ligados à floresta que há três anos surgiu este projeto, que junta mais de 20 entidades, desde grandes empresas do setor, às universidades e aos laboratórios de inovação. Este consórcio é liderado pela The Navigator Company e pelo ForestWISE que é uma associação sem fins lucrativos, que promove a gestão integrada da floresta e do fogo, e foi com o Chief Technology Officer deste laboratório colaborativo que o Expresso SER fez o balanço dos três anos de atividade deste projeto.

Já investiram 5,6 milhões de euros a apoiar a investigação e inovações nesta área. E que inovações são essas? Foi desenvolvido, por exemplo, um sistema de vigilância da integridade dos ativos da REN e da floresta que consiste na instalação de um conjunto de dispositivos e sensores no terreno que fornecem informação em tempo real. Ou então smartphones que fazem o inventário florestal ou estimam e monitorizam as quantidades de biomassa presentes num determinado espaço florestal.

Carlos Fonseca é doutorado em biologia pela Universidade de Aveiro e é atualmente o Chief Technology Officer do ForestWISE e professor associado convidado no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.

Para quem não conhece, o que é o rePlant?
O rePLANT foi lançado em 2020. Nasceu da necessidade de desenvolver soluções integradas e inovadoras que garantam a gestão sustentável das florestas portuguesas, de forma que estas estejam cuidadas, protegidas e que sejam uma fonte de riqueza para os proprietários, as comunidades e o país.

Numa altura em que é urgente encontrar modelos de desenvolvimento sustentável, o rePLANT, enquanto projeto mobilizador, corporiza um esforço sem precedentes para levar para o terreno as iniciativas prioritárias das empresas líder do setor florestal e energético em conjunto com universidades, instituições de I&DT e empresas de base tecnológica, apostando numa abordagem integrada da gestão da floresta e do fogo.

Quem são os parceiros envolvidos neste projeto?
O projeto é liderado pela The Navigator Company, em coliderança com o CoLAB ForestWISE – Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo.

Contou com o envolvimento de 20 entidades, juntando o melhor conhecimento técnico-científico com o mais importante tecido empresarial do setor florestal português. Além da Navigator e do ForestWISE, o projeto envolveu as seguintes entidades: Altri Florestal, Amorim Florestal, DS Smith, Sonae Arauco, whereness, EDP labelec, Trigger Systems, Fravizel, E-REDES, REN, INESC TEC, Tesselo, Florecha – Produtores Agro-florestais da Charneca, INIAV, Universidade de Coimbra, Instituto Superior de Agronomia, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Qual é o balanço que faz destes três anos de atividade?
O projeto veio demonstrar que é possível criar produtos e resultados que contribuem para o desenvolvimento socioeconómico do país, protegendo, ao mesmo tempo, a biodiversidade e o bem-estar da sociedade. Fazemos, por isso, um balanço muito positivo. O setor deve continuar a ter a capacidade de se reinventar e aplicar as melhores técnicas e ferramentas, dando resposta aos grandes desafios societais baseados numa silvicultura sustentável que promova e potencie a bioeconomia circular.

Que inovações já criaram neste domínio da gestão integrada da floresta e do fogo?
O rePLANT traduziu-se em oito tecnologias testadas, três novos equipamentos desenvolvidos, 10 pilotos de testes, dois sistemas de apoio à decisão, nove manuais técnicos para melhoria da gestão florestal e, entre outros, oito ações de demonstração. São números que mostram a qualidade da investigação e desenvolvimento tecnológico do projeto. A floresta precisa de inovação e de tecnologia.

Consegue dar dois ou três exemplos concretos?
Há muitos projetos e tecnologias que merecem destaque. O desenvolvimento de novas tecnologias em variadas áreas tornou possível o acesso a um conjunto de produtos que, até pouco tempo, eram impensáveis. Isto foi possível graças ao empenho de empresas, universidades e centros de investigação e inovação.

Por exemplo, para conferir uma maior proteção, previsão e antecipação do impacto dos incêndios rurais, foi desenvolvido o sistema integrado de vigilância da integridade dos ativos da REN e da floresta que consiste na instalação de um conjunto de dispositivos e sensores que, ao fornecer um leque variado de informação, permite perceber em tempo real quais os acontecimentos que existem e prever como é que estes podem evoluir ao longo do tempo.

Foram também aplicadas metodologias que ajudam a explicar os riscos associados às queimas, uma prática culturalmente difundida entre a população, mas que tem sido frequentemente associada a incêndios rurais e impactos ecológicos e socioeconómicos.

Além do fogo, o rePLANT desempenhou um importante papel para criar florestas mais resilientes e para a revitalização do pinhal, ao estudar as espécies/proveniências de Pinus spp. com maior resistência a pragas/doenças e às alterações climáticas e, consequentemente, capazes de gerar maior rendimento aos produtores florestais.

O rePlant já investiu 5,6 milhões de euros. Quem financia estes projetos?
O projeto contou com um orçamento de 5,6 milhões de euros, sendo apoiado em 3,3 milhões de euros pelo Compete/Portugal 2020, através do Programa Operacional Competitividade e Inovação (POCI) e o Programa Operacional Lisboa 2020. Os restantes 2,3 milhões foram assumidos pelos parceiros do projeto.

Existe uma lógica de rentabilização destes projetos, no sentido de tentar comercializar algumas dessas inovações?
Sim. Na verdade, de várias. Uma delas diz respeito a novas tecnologias que ajudam a conhecer melhor a floresta, recorrendo a smartphones para inventário florestal ou a estimar e monitorizar as quantidades de biomassa presentes num determinado espaço florestal, apoiando a decisão sobre as prioridades de intervenção.

Já têm patentes registadas?
O projeto rePLANT permitiu o desenvolvimento de patentes em cinco países. Com foco na automação e descarbonização de processos de limpeza e preparação de terreno para plantação, a Fravizel, um dos parceiros do consórcio, desenvolveu e fabricou a alfaia riper grade e o corta-mato. Esta empresa foca-se no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a floresta que permitem a sua sustentabilidade social, económica e ambiental. Trata-se de uma parceria inovadora em forte desenvolvimento.

O rePLANT vai continuar no futuro?
O rePLANT foi o início de todo um processo disruptivo que não terá fim. O sucesso deste projeto contribuiu para reforçar a necessidade de potenciar a colaboração entre entidades de toda a cadeia de valor florestal para dar continuidade a alguns dos resultados obtidos e o de propor novas áreas de desenvolvimento. Com este enquadramento surgiu o megaprojeto transForm, a Agenda Mobilizadora dinamizada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que conta com 56 parceiros, 28 projetos que serão desenvolvidos nos próximos 3 anos, num investimento total de cerca de 130 milhões de euros.

Esta oportunidade resulta da aposta do CoLAB ForestWISE, dos seus associados e parceiros, que veio capacitar o país e os “stakeholders” da área da floresta para poderem ombrear, nas Agendas de Inovação do Plano de Recuperação e Resiliência, com as iniciativas de outros setores do tecido económico português. O CoLAB ForestWISE assumiu uma enorme relevância, em muito pouco tempo, sendo hoje um player incontornável nos domínios da floresta e do fogo em Portugal.

A nível de políticas públicas, acha que o Estado tem feito o suficiente em termos de estratégia de prevenção e combate aos incêndios?
Após 2017, muitos documentos e relatórios expuseram as debilidades de todo o sistema e apontaram direções no sentido de inverter as situações identificadas. A prevenção, a sensibilização, o conhecimento, a capacitação, o ordenamento e a gestão ativa tomaram as rédeas da estratégia definida, plasmada no Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, sob a coordenação da AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais. A sua implementação terá, necessariamente, que ser gradual e os resultados são expectáveis a médio-longo prazo e não de uma forma imediata. Creio que estamos nesse processo de “passagem para o terreno”, para o qual o CoLAB ForestWISE tem contribuído de uma forma muito construtiva e assertiva.

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