www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 1 abr. 01:01

Pobre governante incompreendido

Pobre governante incompreendido

Como aquele marido que está ao lado da mulher nos piores momentos da vida até ela perceber que é ele o culpado de todo o mal que lhe acontece, no balanço do primeiro ano da maioria absoluta, oitavo como primeiro-ministro de um país cada vez mais miserável às suas mãos, António Costa não se lembra de ter governado ″um só dia em situações fáceis″. Faltava só a lágrima que um Daniel Oliveira como entrevistador sem dúvida garantiria. ″O que dizem os seus olhos?″ E o pobre governante incompreendido revelaria em voz entrecortada como tem sido injustiçado, com detalhes de fazer chorar as pedras da calçada.

Como aquele marido que está ao lado da mulher nos piores momentos da vida até ela perceber que é ele o culpado de todo o mal que lhe acontece, no balanço do primeiro ano da maioria absoluta, oitavo como primeiro-ministro de um país cada vez mais miserável às suas mãos, António Costa não se lembra de ter governado "um só dia em situações fáceis". Faltava só a lágrima que um Daniel Oliveira como entrevistador sem dúvida garantiria. "O que dizem os seus olhos?" E o pobre governante incompreendido revelaria em voz entrecortada como tem sido injustiçado, com detalhes de fazer chorar as pedras da calçada.

O homem que tomou o governo de um país acabado de sair de um dos piores momentos da sua história, com a troika de malas aviadas para abalar e sem oposição ou contestação social, que recebeu a maior injeção de dinheiro grátis de sempre da bazuca europeia, que beneficiou de taxas de juro a zeros e programas de compra de dívida inéditos pelo BCE, que alimentou a sua obesidade governativa com manápulas sedentas de impostos que renderam recordes num ano de inflação galopante a suceder outro do maior aumento de carga fiscal paga pelos contribuintes, veja bem, não teve dias fáceis.

O chefe de governo que põe e dispõe do país e dos portugueses sem contemplações desde que isso sirva os seus planos pessoais, que não hesita em lançar suspeitas sobre as empresas mas fecha a boca sobre os resultados do banco público, que despreza sem disfarçar a iniciativa privada apesar de dela depender para conseguir pagar salários e despesas, para o país criar emprego e riqueza que lhe rende milhares de milhões em impostos, para poder dizer que há remunerações acima do salário mínimo. Ele é, entenda-se, uma vítima das circunstâncias.

O "líder" que durante quase uma década esteve ao leme de sucessivos governos manchados por escândalos e casos de polícia e de justiça, que destruiu o SNS e assinou a sentença de morte da saúde, que pôs a agricultura em coma e implodiu o sistema educativo, que nacionalizou uma companhia aérea e com ela gastou milhares de milhões para a privatizar de novo, que quer esmagar o Alojamento Local sem pensar um minuto nos efeitos que isso terá no turismo e na vida de quem nele tem um complemento de rendimento, que nos quer convencer que o património imobiliário do Estado e os fundos públicos não devem servir para resolver a crise da habitação porque essa obrigação é dos privados, que esperou um ano até agir contra uma inflação sem precedentes na vida da maioria dos portugueses e agora se diz tão preocupado com quem não tem rendimentos equiparáveis aos dele... Esse "líder" é afinal um pobre coitado a quem todos dificultam a existência e cujas boas intenções boicotam.

Pobre António Costa, que teve de contratar um batalhão de spin doctors - milhares de euros que podia dedicar a objetivos altruístas se os portugueses não fossem tão incompreensivos - para limpar a imagem de oito anos de péssimas decisões com ainda piores resultados, fruto de devaneios totalitaristas e escolhas miseráveis, e ainda assim tem de encarar a falta de reconhecimento dos dois terços que consideram a sua governação má ou péssima.

"Não se pode governar só para os aplausos", conclui, com visível tristeza. Pois alguém devia explicar ao primeiro-ministro que uma coisa é não recolher aplausos por ter de se tomar decisões difíceis. Outra é ser apontado pela incompetência reincidente na governação. E mais importante: que o poder não é de António Costa, é dos portugueses - que, tal como o elegeram, podem exigir a sua saída. Mesmo com uma maioria absoluta e créditos financeiros para pintar os lábios ao porco quando for tempo de ir a votos.

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