expresso.ptexpresso.pt - 1 abr. 16:37

Juros da dívida portuguesa descem meio ponto percentual no primeiro trimestre

Juros da dívida portuguesa descem meio ponto percentual no primeiro trimestre

Os juros das obrigações do Tesouro a 10 anos caíram no mercado de um pico de 3,6% em dezembro para 3,1% no fecho de março. O spread da dívida portuguesa desceu de mais de 100 para 83 pontos-base nestes três primeiros meses do ano e é o mais baixo nos onze países periféricos do euro
Queda de meio ponto percentual

Depois de uma escalada desde janeiro de 2021 até um pico em dezembro passado no mercado secundário da dívida, os juros (yields) das obrigações do Tesouro a 10 anos desceram de 3,6% no final de 2022 para 3,1% no final de março de 2023. A queda foi de meio ponto percentual durante o primeiro trimestre deste ano. O grosso da redução registou-se em março. Uma descida das yields, apesar do Banco Central Europeu (BCE) já ter subido a sua taxa diretora em 100 pontos-base (1 ponto percentual) no conjunto das reuniões de fevereiro e março.

No mercado secundário os investidores transacionam os títulos de dívida pública que detêm nas suas carteiras, enquanto no mercado primário, os Estados colocam a dívida. O Tesouro português já emitiu 13 mil milhões de euros em vários instrumentos de dívida pública (obrigações, bilhetes do Tesouro e certificados). É mais de 50% do que prevê colocar em todo o ano de 2023. Em obrigações do Tesouro emitiu quase 5 mil milhões numa operação sindicada logo em janeiro e em três leilões em fevereiro e março. A que acrescem seis emissões de obrigações subscritas pela Caixa Geral de Aposentações no valor de 3,7 mil milhões.

No entanto, a descida dos juros no mercado secundário ainda não se traduziu no custo de emissão da dívida, que subiu em flecha de 1,7% em 2022 para 3,5% neste primeiro trimestre, segundo dados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Nos leilões de obrigações a vencer em 2032 (que ainda servem de referência para a divida a 10 anos), o Tesouro pagou 3,172% em fevereiro e 3,543% em março. O IGCP ainda não realizou uma operação sindicada para lançar uma nova linha de referência a 10 anos, com vencimento em 2033.

O Tesouro necessita de colocar 24,5 mil milhões de euros em 2023 e de recorrer a 300 milhões de euros da almofada dos depósitos para cobrir 24,8 mil milhões em necessidades de financiamento, abrangendo 12,5 mil milhões em amortizações de dívida e o restante para tapar o défice orçamental do subsector do Estado e refinanciar outras entidades públicas e fundos de resolução (nacional e europeu).

Os investidores abrandaram a pressão sobre o mercado da dívida da zona euro, apesar da continuação da política de aperto monetário robusto por parte do Banco Central Europeu (BCE). Os juros médios, no prazo a 10 anos, para o conjunto da zona euro desceram de 3,39% no final de 2022 para 3,2% no encerramento do primeiro trimestre de 2023.

Apesar da posição dura mantida pelo BCE em relação à subida dos juros, os investidores projetam que a taxa diretora principal, atualmente em 3,5%, atinja um pico no verão. Para a remuneração dos depósitos dos bancos na facilidade permanente do BCE (que, no final de março, somam, 4 biliões de euros, 51% do passivo), as expetativas do mercado apontam para uma taxa final neste ciclo de subidas de 3,55%. Atualmente está em 3%. O que significa um aumento nas próximas reuniões de cerca de meio ponto percentual. As duas próximas reuniões realizam-se a 4 de maio e 15 de junho.

O mercado da dívida pública na zona euro continua a premiar Portugal. Nos onze periféricos do euro, a dívida portuguesa tem, atualmente, o custo mais baixo no mercado secundário e o prémio de risco é o menor. Os juros da dívida a 10 anos, que servem de referência, desceram meio ponto percentual no primeiro trimestre de 2023.

O spread em relação ao custo de financiamento da dívida alemã caiu de mais de 100 para 83 pontos-base entre janeiro e março. Nas previsões do portal World Government Bonds, o spread cai a pique para 60 pontos-base no final deste ano e ficará abaixo ligeiramente do prémio para a dívida belga..

O spread mais baixo nos periféricos

O diferencial entre o custo de financiamento da dívida alemã e da portuguesa desceu de mais de 1 ponto percentual no final do ano passado para perto de 0,8 pontos percentuais no final deste primeiro trimestre. Este diferencial é denominado de spread da dívida e corresponde ao prémio de risco que os investidores exigem para comprar títulos portugueses. É calculado na base da diferença dos juros entre as obrigações alemãs e portuguesas a 10 anos.

O spread desceu de 104 pontos-base no final do ano passado para 83 pontos no final de março. Cada 100 pontos-base equivalem a 1 ponto percentual de diferença no custo das duas dividas. Este nível de prémio de risco é o mais baixo no grupo dos 11 periféricos do euros. Portugal situa-se, atualmente, na melhor posição nesse grupo que integra, também, a Eslovénia, Espanha, Malta, Eslováquia, Croácia (que entrou no euro em janeiro), Chipre, Lituânia, Itália, Grécia e Letónia, por ordem crescente do spread.

O prémio de risco da dívida portuguesa é o mais baixo em relação aos periféricos do Sul e às economias de Leste inseridas no euro, com exceção da Estónia. A título de exemplo, o spread para a dívida espanhola ainda está acima de 100 pontos-base e para a Letónia é superior a 200 pontos-base. A Itália regista um prémio perto de 180 pontos e a Grécia de mais de 190 pontos.

Forte queda do spread até final do ano

O spread da dívida portuguesa poderá cair para 60 pontos-base (0,6 pontos percentuais) no final deste ano, segundo as projeções do algoritmo do portal World Government Bonds.

A diferença entre o custo de financiamento da dívida alemã e da portuguesa, no prazo a 10 anos, encurta-se face a juros de 2,9% para os títulos alemães e de 3,5% para os portugueses. Atualmente a diferença é entre 2,28% para as obrigações germânicas e 3,11% para as portuguesas.

A confirmarem-se estas projeções, o prémio da dívida portuguesa ficará inclusive ligeiramente abaixo do da dívida belga e continuará a ser muito inferior ao projetado para os periféricos do euro já referidos.

Recorde-se que, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional para 2024, o rácio da dívida portuguesa no PIB deverá cair para 106%, abaixo do da Bélgica (107%) e de Espanha (110%).

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