Observador - 1 abr. 00:14
Os oportunistas
Os oportunistas
Quem fez a insinuação de que o crime deveria ser terrorismo não fez uma associação de ideias. Queria que fosse assim que se lessem os factos. Não temia um problema, queria que o problema fosse aquele.
Algumas reacções ao crime contras duas raparigas da comunidade ismaelita foram uma lição sobre a diferença entre temer um problema e querer tê-lo.
O que aconteceu terça-feira na comunidade ismaelita é horrível e terrivelmente doloroso, sejam quais sejam, fossem quais fossem, as motivações e as circunstâncias. E, sobretudo para os familiares, amigos e colegas das vítimas, as motivações alteram pouco. O que conta é que perderam duas mulheres que se dedicavam a ajudar gente fragilizada e em necessidade. Exactamente o que a comunidade e todo o seu universo faz com dedicação, pelo mundo fora e muito em especial em Portugal.
Conforme se soube o que aconteceu, além do horror pelas mortes e pelo odioso do acto, houve rapidamente quem pensasses se haveria mais alguma explicação para o que tinha acontecido. Estaríamos perante um caso de terrorismo? Perante um crime de ódio religioso? Perante um fanático ou radicalizado que aproveita a condição de refugiado para atacar precisamente quem o ajuda? Não era impossível. E se um dia acontecer – temos de reconhecer que é uma possibilidade – isso não altera o fundamental: acolher quem foge da morte é um princípio fundamental das sociedades decentes. Presumi-los culpados, e de seguida generalizar a culpa, é exactamente o oposto.
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