sol.sapo.ptEduardo Baptista Correia - 31 mar. 00:00

Anunciodependência

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Uma vez mais o Governo socialista, que atravessa uma crise de imagem utiliza, o anúncio de obra para, uma vez mais, alterar o foco da perceção negativa.

por Eduardo Baptista Correia

O caminho do desenvolvimento faz-se com a noção do percurso a desbravar, do conjunto de objetivos e posicionamentos a conquistar e a consequente execução das medidas e obras que preenchem em coerência o desígnio e os objetivos traçados.

A propósito dessa forma de estar nos projetos, tenho a obrigação de aqui referir o profissionalismo e coerência da explicação a que recentemente assisti, relativa à escolha e preferência de localização do aeroporto da região de Lisboa, em Santarém. Os dados de análise e a argumentação utilizada demonstram uma enorme consistência. É a partir dessa argumentação, que leva em linha de conta os aspetos fundamentais para a tomada de decisão – estruturação financeira, custo de obra, racional da utilização e serviço à comunidade – que as escolhas devem ser feitas. O exercício apresentado merece o enorme respeito de todos os que com seriedade analisam e estruturam a lógica do investimento publico. Devo também referir que após décadas de notícias de localizações diversas e arranque de obras anunciados e interrompidos, pela primeira vez fui confrontado com uma estruturação analítica digna desse nome.

A realidade mostra que os protagonistas da atividade político portuguesa são velozes e destruturados no modo como anunciam obra futura. Quando governam, a forma de disfarçarem a sua incapacidade passa por anunciar obras futuras. A maior parte cai no esquecimento, outra parte aparenta ser reciclada ciclicamente; quando na oposição, o modelo é ligeiramente distinto na aparência, mas profundamente idêntico na forma. Critica-se veemente o modelo governante e promete-se a profunda alteração para quando e se atingir o poder.

Uma vez mais o Governo socialista, que atravessa uma crise de imagem utiliza, por conseguinte, o anúncio de obra para, uma vez mais, alterar o foco da perceção negativa. A oposição, sem alternativa nem substância, reclama como sempre faz, apenas e só porque enquanto oposição vê o seu papel reduzido a essa função de reclamante. Uns são viciados no anúncio, outros, no anúncio da reclamação. Este ciclo vazio de projeto, vazio de desígnio estratégico, tem sido responsável pelo gradual atraso a que temos sido remetidos.

O projeto para resolver os problemas da habitação, os investimentos na TAP, as pontes anunciadas na margem sul são mais um exemplo disso mesmo. O vicio do anúncio que os convence do cumprimento da responsabilidade de bem governar.

O nosso povo reclama de quem muito fala e pouco acerta e é de facto o modelo de governação implementado. Os nossos governantes e candidatos a governantes não estão devidamente preparados para governar. Viciados e especialistas na obtenção e manutenção do poder, são peritos no dizer e incapazes no fazer.

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