www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 29 nov. 07:06

Acabou a festa da ″big tech″

Acabou a festa da ″big tech″

Há apenas um ano, o índice tecnológico Nasdaq atingia um nível histórico que parecia consagrar o reino da ″big tech″, com as grandes empresas a contratarem de forma desenfreada e os resultados trimestrais a satisfazerem os investidores. O maior problema era a escassez de talento a meio da ″grande resignação″ e os soluços logísticos causados pela pandemia, com a procura em alta. Mas se o sector tecnológico foi um dos que mais beneficiou durante os tempos caóticos da pandemia de covid-19, agora é também o que cai de mais alto. A festa da ″big tech″, simplesmente, acabou.

Há apenas um ano, o índice tecnológico Nasdaq atingia um nível histórico que parecia consagrar o reino da "big tech", com as grandes empresas a contratarem de forma desenfreada e os resultados trimestrais a satisfazerem os investidores. O maior problema era a escassez de talento a meio da "grande resignação" e os soluços logísticos causados pela pandemia, com a procura em alta. Mas se o sector tecnológico foi um dos que mais beneficiou durante os tempos caóticos da pandemia de covid-19, agora é também o que cai de mais alto. A festa da "big tech", simplesmente, acabou.

Já se sabia que o crescimento de certos segmentos não ia durar eternamente - como a Peloton descobriu assim que o confinamento aliviou. Já se sabia que empresas como a Zoom e as fabricantes de computadores não iam poder manter crescimentos a dois dígitos depois do pico. Mas o que está a acontecer em 2022 é muito mais que o rescaldo de uma temporada anormal. É uma autêntica ressaca provocada por um misto de exagero, expectativas goradas e o impacto da terrível invasão da Ucrânia.

As contas feitas pela CNBC mostram que os investidores da "big tech" perderam 7,4 biliões de dólares (biliões!) nos últimos doze meses, fruto da curva descendente do Nasdaq. A capitalização bolsista de várias empresas levou uma tareia descomunal, com a Microsoft a perder 700 mil milhões e a Meta 600 mil milhões, uma redução de 70% do seu valor. É uma reversão estrondosa em apenas um ano. Inflação elevada, quebra da procura, instabilidade geopolítica, aumento das taxas de juro e apostas dúbias no metaverso e criptomoedas estão entre os factores que explicam este mergulho no fosso.

O resultado é o pessimismo dos investidores num mercado financeiro contraído e despedimentos em massa, que têm vindo a acelerar no último mês. Depois de movimentos nesse sentido durante o Verão, que atingiram empresas como a Coinbase e Shopify, as demissões chegaram às gigantes. A Meta despediu 11 mil pessoas, a Amazon 10 mil, a HP vai despedir entre quatro e seis mil, e Stripe, Microsoft e Snap cerca de mil. O Twitter mandou embora quase cinco mil pessoas, bem mais que metade do staff, mas a rede social é uma história diferente que está ligada aos percalços da nova liderança. Outras empresas, como a Apple, congelaram as contratações.

O que estes cortes todos indicam é que as empresas olharam para os próximos trimestres e perceberam que a situação não vai melhorar. Existe a possibilidade de que a guerra na Ucrânia se arraste sem fim à vista, estrangulando o fornecimento de energia e de bens agrícolas e mantendo a inflação elevada. Se as economias entrarem em recessão, não há motivo para acreditar que o sector tecnológico consiga reverter a tendência de quebra.

O notável é olhar para os investimentos pesados que foram feitos em áreas de risco, sobretudo metaverso e criptomoedas, e perceber que os "moonshots" vão provavelmente explodir antes de chegarem a órbita. A Meta está numa posição particularmente difícil, porque o CEO Mark Zuckerberg estava convencido de que o metaverso seria a próxima grande coisa e é pouco evidente que assim seja.

A realidade virtual e aumentada tem usos específicos muito apelativos, mas a ideia de que um número significativo de pessoas quererá passar boa parte do seu tempo em mundos virtuais é irrealista, pelo menos por enquanto. Todo o mercado de VR está predicado numa adesão em massa que até agora nunca sucedeu. E com os entraves colocados pelas mudanças que a Apple operou no iOS, impedindo aplicações de monitorizarem o comportamento dos utilizadores sem o seu consentimento, a Meta tornou-se menos eficaz na publicidade direccionada. A privacidade é inimiga dos lucros publicitários numa empresa que vive quase exclusivamente deles. O que vai Zuckerberg fazer se o metaverso falhar e o TikTok comer o queijo do Instagram? Ninguém sabe bem, e é por isso que 2022 tem sido um ano terrível para a empresa - e para o seu criador.

Há sempre quem diga que a crise é um momento de oportunidade, e neste caso talvez seja mesmo. Há milhares de profissionais qualificados no desemprego e investidores decepcionados com as gigantes à procura de alternativas. Os próximos 18 meses podem ser propícios a novos começos. E há sempre uma nova festa para planear.

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