visao.sapo.ptMANUEL BARROS MOURA - 29 nov. 08:17

Visão | Portugal entre os melhores e quase sem precisar de Ronaldo

Visão | Portugal entre os melhores e quase sem precisar de Ronaldo

Acusado de ser um treinador que prefere jogar para o empate, Fernando Santos pode gabar-se de levar a Seleção Nacional a uma posição à qual só conseguiram chegar os grandes favoritos, França e Brasil. É obra

O futebol tem destas coisas e já se sabe que as bestas de ontem são os bestiais de hoje. E que o regresso à condição inicial está apenas à mercê de uma bola no poste. Serve isto para assinalar que o bestial de hoje é o Engenheiro Fernando Santos, que tantos de nós nos habituámos a acusar de ser o profeta do futebol da retranca e que, depois da vitória de ontem frente ao Uruguai, até parece o mais audaz dos treinadores.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O mister é o mesmo de sempre: aquele que conduziu Portugal, entre empates e desempates por penáltis, à vitória no Euro2016; o que, jogando um futebol espetacular, venceu a primeira edição da Liga da Nações; e o mesmo que liderou, sem honra ou glória, a Seleção Nacional pelo Mundial2018, o Euro2020 e a última Liga das Nações. O homem é o mesmo e as ideias do treinador estão lá, as circunstâncias é que mudam. E a verdade é que aquele em quem poucos confiavam há menos de uma semana é, agora, o homem que conseguiu levar a Seleção Nacional a ser uma das únicas três, a par da França e do Brasil, a conseguir garantir, à segunda ronda, o apuramento para os oitavos de final do Mundial do Qatar. Todos as outras principais candidatas, da Alemanha à Argentina, passando por Inglaterra, Holanda, Bélgica ou Espanha, vão ainda ter de suar as estopinhas para conseguir seguir em frente na competição. É caso para dizer que, até ao momento a nossa “besta” de estimação está a ser bestial!

Falando um pouco mais a sério, é fundamental dizer que Portugal consegue chegar a esta fase precoce da competição numa condição tão favorável com todo o mérito. Mesmo sem se poder dizer que tenha realizado duas exibições portentosas, como as que a França conseguiu frente a Austrália e Dinamarca, ou tão recheadas de talento como as que o Brasil realizou para derrotar a Sérvia e a Suíça, a verdade é que a Seleção Nacional conseguiu superiorizar-se a duas equipas muito duras, que jogaram quase sempre fechadas no seu meio-campo. Quer isto dizer, que foi capaz de assumir o controlo do jogo e, com mais ou menos velocidade, soube encontrar os caminhos para o golo. No fundo, com o mister Fernando Santos a mostrar que, paulatinamente, sem abdicar totalmente da sua obsessão pela segurança, está a ser capaz de montar uma equipa mais livre e disponível para apostar na procura ativa da vitória.

Finalmente, e porque o desempenho dos jogadores que têm sido chamados o permite, está na hora de começar a admitir que Cristiano Ronaldo está a deixar de ser fundamental na equipa, o que é, a meu ver, uma extraordinária notícia. Não porque eu ache que ele já não faz falta ou deva sair do onze, mas porque é fundamental perceber que, apesar de continuar a jogar com um CR7 que está objetivamente a anos luz do que já foi no passado, a equipa foi capaz de resolver os problemas e ganhar os jogos. Talvez o mister nos volte a surpreender já na próxima sexta-feira e aproveite o jogo contra a Coreia do Sul para testar outras opções. E até pode ser que lhe aconteça, como a Humberto Coelho no Euro2000, que defrontou e goleou a Alemanha por 3-0 com uma equipa só de “suplentes” porque já estava apurado para os oitavos-de-final, e descobriu que, em vez de 12 ou 13 possíveis titulares, tinha 22 craques disponíveis, que só ficaram de fora da final dessa competição por causa de um famigerado golo de ouro, num prolongamento contra a França. Pode até ser que o próximo Portugal – Coreia do Sul venha a mostrar que há vida sem Ronaldo. Ou com um bocadinho menos, vá…

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