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Visão | Cientistas criam vacina contra a infeção urinária

Visão | Cientistas criam vacina contra a infeção urinária

Administrada sob a forma de comprimido solúvel, a vacina apresenta-se como uma alternativa prometedora aos antibióticos

Investigadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, criaram uma vacina contra a infeção do trato urinário (ITU), mais comum nas mulheres. No relatório publicado na revista Science, é descrita a sua aplicação via oral, sob a forma de comprimido solúvel, capaz de fornecer proteção a longo prazo contra a Escherichia coli, a bactéria mais comum nestas infeções. Por enquanto, a vacina foi apenas testada em cobaias animais (ratos e coelhos), com resultados equivalentes a altas doses de antibióticos, mas com significativamente menos perturbação do microbioma intestinal. Se a eficácia for semelhante nos humanos, isso permitirá um menor recurso aos antibióticos. Em Portugal, estima-se que anualmente existam 1160 mortes causadas por bactérias resistentes e a Direcção-Geral da Saúde já alertou para a importância de utilizar antibióticos apenas quando necessário, para que não se venham a tornar ineficazes.

O fármaco treina o sistema imunológico para reconhecer e combater as bactérias causadoras da infeção urinária, expondo-o a três moléculas peptídicas encontradas na superfície desses micróbios. Anteriores investigações esbarraram na dificuldade de penetração do medicamento na mucosa celular que reveste as paredes das mucosas da boca, garganta e trato urinário (com semelhanças entre elas). O desenvolvimento de uma espécie de nanofibra peptídica permitiu então que esta nova solução penetrasse na mucosa. Colocado debaixo da língua, o comprimido dissolve-se na saliva. Ainda não se sabe, contudo, qual o tempo de duração da proteção.

A UTI ocorre quando os tecidos dos seus órgãos (bexiga, uretra ou rim) são afetados por bactérias, com origem na flora intestinal, provocando uma inflamação. Ardor a urinar, dores, pressão pélvica, micções mais frequentes, urgência urinária, presença de sangue na urina são alguns dos sintomas associados, dependendo dos órgãos atingidos. Se a infeção não for devidamente tratada, a paciente pode desenvolver complicações severas, até fatais. Segundo a Associação Portuguesa de Urologia, estudos europeus referem que “uma em cada cinco mulheres adultas tem pelo menos um episódio de UTI ao longo da vida”. As mulheres têm mais propensão de desenvolver esta afeção do que os homens, sobretudo pelas diferenças anatómicas, por possuírem uma uretra mais curta e próxima da vagina e do ânus.

Aqueles que sofrem de infeções recorrentes (mais de três infeções em um ano) experimentam uma perda considerável da sua qualidade de vida e são sobrecarregados com os custos de saúde. Normalmente, as UTI são controladas por profilaxia antibiótica de longo prazo, mas são conhecidos os seus efeitos adversos, nomeadamente, problemas gastrointestinais. Sabe-se ainda que a bactéria Escherichia coli está cada vez mais resistente aos antibióticos. Daí que esta nova vacina tenha sido recebida com entusiasmo pela comunidade científica.

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