observador.ptObservador - 27 nov. 00:15

Circunstâncias do Diabo para Deus nos fazer falta

Circunstâncias do Diabo para Deus nos fazer falta

Se Deus se expôs a viver os nossos infernos, por que não haveremos nós de lhe pedir o paraíso? O bom ladrão é o que quer estar onde Jesus vai.

Andássemos mais aflitos e não teríamos os Nataizinhos insignificantes que nos calharam em sorte. Para um bom Natal são precisas três coisas: aflição, admissão da nossa responsabilidade nessa aflição, e recusa dessa aflição. Pessoas que não se sentem à rasca não precisam de Messias. A linguagem da Bíblia é diferente, dialecto próprio de deserdados. Quando, por exemplo, sintonizamos o profeta Isaías do Velho Testamento, só escutamos esperança depois de escutarmos desespero. Que Deus faça coisas típicas de um Deus: “Oh! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua presença! Quando fizeste coisas terríveis, que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram à tua presença.” (Isaías 64:1-3).

Para quem chegou a uma aflição sincera, pedir razoabilidades é absurdo. Razoabilidades pede gente achada. Gente perdida precisa de ver Deus nas grandes desgraças que atravessa. Gente que precisa de um Salvador sabe que no dia que ganhar vergonha de pedir coisas a Deus, perde-o a ele também. A linguagem excitada dos velhos profetas é decalcada e a lógica aplica-se-nos: se é para Deus aparecer, que apareça de um modo radical, directo e à antiga! O que se pede é: Deus, parte alguma coisa que a nossa paciência chegou ao fim. Por favor, faz coisas terríveis para que ninguém arrisque negar que estás a tomar conta desta cena lamentável!

Outra vantagem da pessoa aflita é que ela não teme pedir a Deus para benefício próprio. Isaías deu combustível para uma interpretação tão abençoadamente egoísta quando afirma que “desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera” (no verso 4). Acreditar em Deus também é saber que ele nos serve. Nenhum cristão é desinteressado—a salvação é para ser lucro e não prejuízo. Na Bíblia as pessoas são pessoas e não pessoas boas. O melhor que acontece nestas páginas santas e alucinadas é sempre através do reconhecimento do pior em nós. E é também assim que entramos no segundo passo para um bom Natal: o da admissão da nossa responsabilidade na aflição que vivemos.

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