www.publico.ptpublico.pt - 27 nov. 05:25

Cartas ao director

Cartas ao director

Serão mesmo universais?

A polémica com o Mundial do Qatar e o (não) respeito dos direitos humanos é uma boa oportunidade para reflectir sobre a respectiva universalidade. No rescaldo da II Guerra Mundial, com a vitória das democracias sobre os totalitarismos, a recém-criada Organização da Nações Unidas proclamava uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, que pretendia ser uma referência e um guia para uma nova era, de democracia e de liberdade.

Nesse baralho, havia já algumas cartas atravessadas. Entre os vencedores, não estavam apenas democracias. A União Soviética e os seus satélites abster-se-iam na votação da referida carta. Dentro da ONU, sempre houve membros que formalmente apoiando, ou não, na prática não praticavam. Para lá do bloco de Leste, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco são exemplos.

Prevaleceu o pragmatismo de ser preferível integrar membros não perfeitos e assim de alguma forma os condicionar do que os deixar pairando como párias. É também verdade que, só como exemplo, se para os combustíveis fósseis restringíssemos o seu aprovisionamento aos países respeitadores… sobrariam muito poucos. De todas as formas, sempre existiu o reconhecimento de que por princípio havia direitos humanos universais.

Recentemente, com uma certa moda de valorizar diferenças culturais e minorias, associada ao crescimento de regimes autoritários, vemos alguma crítica à suposta colonização cultural ocidental e apelos à necessidade de respeitar especificidades e diferenças. Ao menos, uma coisa seria relevante: questionar livremente os cidadãos desses países sobre se se acham no direito a serem respeitados. Não será tudo, mas um bom princípio, sendo que a pressão migratória para a Europa é já uma forma de votar… com os pés.

Carlos J.F. Sampaio, Esposende

Paz só no fim da guerra

Numa altura em que faltam três meses para a passagem de um ano sobre o início da guerra na Ucrânia, sinceramente não se vêem condições para a paz, porque ambos os opositores têm visões bem diferentes do que ela possa ser: para a Rússia, é a capitulação da Ucrânia, a sua subjugação à vontade do invasor; para a Ucrânia invadida, representa a reconquista do território perdido e que lhe foi tirado à força. Depois da anexação russa da Crimeia e de parte do Donbass, é agora a Ucrânia que, com toda a legitimidade, quer voltar a ser dona do seu todo.

Parece assim que passou o tempo da negociação, que a Rússia e a Bielorrússia andam agora a acenar. No início do conflito, talvez. Depois, tem havido muitas mortes e muita destruição, agora acrescida pelo ataque a centrais eléctricas, no propósito russo de que os ucranianos que não morreram pelas armas ou em outros ataques morram agora pelo frio. Zelensky tem razão em resistir e procurar a reconquista, até ao fim, por respeito ao seu povo, que nele vê um herói, mas também pelo massacre do Holodomor, de há 90 anos, em que ontem com Estaline, hoje com Putin, existe a mesma directiva de teor soviético assente na tentativa de genocídio do povo ucraniano. Por isso, paz só no fim da guerra.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Quando um livro tem utilidade

O recente livro de Marçal Grilo Salazar e a Educação no Estado Novo é um trabalho de investigação muito cuidada e como tal é um contributo para a sociedade e para a História. Tem ainda a vantagem de os protagonistas já não existirem e, como tal, não afecta os seus actores políticos. Isto bem ao contrário da outra publicação que tantas contradições tem gerado. Quando escrevi que este livro, entre outros, revela alguma falta de ética, o que aliás foi contrariado por um nosso leitor, pois temos todo o direito de saber quem é/foi responsável por situações que nós, contribuintes, somos sujeitos a pagar. Neste ponto, estou de acordo. Contudo, o que se verifica é precisamente o contrário, pois até a principal visada, Isabel dos Santos, veio desmentir e, como tudo, só irá acabar nos tribunais, o que quer dizer que antes de cinco a dez anos não saberemos o que realmente se passou.

Ao contrário da obra de Marçal Grilo, O Governador acaba por nada esclarecer e, pela altura em que é lançado e a forma como é apresentado, tem um aspecto de vingança, o que não é bonito, quando alguns dos agentes estão em actividade, e que pretende objectivamente prejudicar. Foi um processo iniciado por Cavaco Silva, que pretendeu os mesmos objectivos.

António Barbosa, Porto

NewsItem [
pubDate=2022-11-27 06:25:00.0
, url=https://www.publico.pt/2022/11/27/opiniao/opiniao/cartas-director-2029234
, host=www.publico.pt
, wordCount=714
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2022_11_27_1470383971_cartas-ao-director
, topics=[opinião]
, sections=[opiniao]
, score=0.000000]